SOBRE

VII FÓRUM NACIONAL ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARA TODOS!

II CICLO INTERNACIONAL DE DEBATES – SINGULARIDADES

TV UFG – Dias 25, 26, 27, 28, 29 e 30 de setembro de 2023

Evento Virtual

       Este VII Fórum Nacional Escola de Educação Básica para Todos! / II Ciclo Internacional de Debates homenageia o amor! Sim, o amor traduzido em memória e justiça como formas de luta e resistência contra todos os tipos de violência, visíveis e invisíveis, que subjugam qualquer ser: mineral, vegetal, animal, hominal… 

       A esperança que renasce em nossos corações, como resultado de uma incansável resiliência, vem sendo regada dia a dia neste ano de 2023 com a retomada de políticas públicas que miram o direito à vida, à liberdade e à segurança, garantindo a equidade. Já é sinal de que podemos tranquilizar, descansar, relaxar? Definitivamente, não! O planeta corre risco! A democracia corre risco! Os povos originários e as comunidades tradicionais correm risco! As pessoas com suas singularidades, a despeito de suas branquitude e condição socioeconômica, também correm risco! É, ainda (ou sempre?), momento de alerta, cuidado e ação!

       E uma das formas que a equipe organizadora do VII FNEEBT / II CID visualiza como possibilidade de contribuir para essa lide é trazer ao palco, em suas Rodas de Conversa, Diálogos Abertos, Ciclos Internacionais de Debates, Vivências Sistêmicas e momentos de Arte, Cultura e Saberes, pautas que suscitam, provocam e problematizam as diversificadas e em grande parte ocultas, disfarçadas, dissimuladas formas de violência. Afinal, cada uma dessas questões, em seus fundamentos e princípios, afeta sobremaneira a qualidade de vida do sujeito e interfere profundamente em suas relações sociais, dentro e fora da escola.

       Assim, já na noite de abertura, a exibição do premiado documentário do jornalista indígena Marcelo Cuhexê Krahô, Levante pela Terra, oportuniza-nos aprender sobre a importância de resistir à violência, preservando a memória, reverenciando os antepassados e disseminando, pelas vias das artes, milenares e imprescindíveis ensinamentos. Trata-se, pois, de compreender que a luta pela Terra não pressupõe meramente a vontade e o direito de possuir um lugar para morar, mas tem a ver com a responsabilidade e o compromisso de preservar, manter e consagrar o tekohá, o espaço sagrado central de religação de nossa identidade e cultura, pois é onde descansam os espíritos de nossos ancestrais.

       No segundo dia, pela tarde e no princípio da noite, a leveza das crianças brancas, indígenas, pretas…, sujeitos imersos no frescor de suas infâncias, com seus singulares processos de perceber, representar e ressignificar o mundo, pode nos propiciar captar o potencial de transformação das vicissitudes humanas, como a tristeza, o desânimo, a letargia, a inércia, a agressão…, em amor, quando nos deixamos levar por princípios de reciprocidade, de respeito às singularidades e de preservação de todos os seres da natureza. E, durante o primeiro momento de Arte, Cultura e Saberes, Lara Fogaça apresenta o Programa de Podcast Trançando Histórias e conta como se deu o processo criativo dos episódios, cujos protagonistas são estudantes da Escola Quilombola de Aparecida de Goiânia que, ao lerem e interpretarem obras literárias escritas majoritariamente por autora/es negra/os, são inspirados a criar suas escrevivências narrando fatos que demonstram atitudes estereotipadas, preconceituosas e discriminatórias contra o ser negro, suas identidades e suas culturas.

       Já no final da noite, a segunda Roda de Conversa, intitulada Violências na Escola, tem por intuito nos ajudar (nós os adultos, os professores) a observar se no espaço escolar nossas atitudes refletem ou refratam um modelo de sociedade que imputa ataques à identidade e à dignidade humana e que, por consequência, produz silenciamentos e exclusões. Enxergar-nos é uma forma de aprendermos a respeitar o outro. 

       No terceiro dia, a partir do reconhecimento, da atenção e da estima pela complexa existência humana, nos dois momentos do Ciclo Internacional de Debates, são apresentadas propostas teórico-práticas que privilegiam o planejamento e o desenvolvimento de projetos inter/multi/pluridisciplinares criativos, como forma de (re)ligar os saberes cotidianos e o conhecimento formal científico. Saber reconhecer-se é também resistir!

No final da tarde, durante o momento de Arte, Cultura e Saberes da Exposição Virtual Habitat, em reflexões múltiplas, a artista Rosana Rocha nos propicia perceber as camadas não óbvias de territórios midiáticos concebidos por diferentes aspirações estéticas, que deixam à mostra a relação entre o homem e os animais. E, para encerrar a noite, aguerridas representantes do universo feminino trazem à baila algumas questões envolvendo diferentes formas de violência física, sexual e psicológica de gênero, decorrentes de uma subjugação social determinada por uma preconceituosa ótica do sentido de feminilidade. A resistência exige mudança também de concepção!

       Na 5ª feira, durante os dois momentos de encontro entre estudantes e professores que pesquisam questões relacionadas às práticas escolares curriculares, são debatidos os efeitos nefastos provocados por uma dita Reforma que se pretende Nova, mas que, na verdade, reduz os conceitos de interesse e autonomia a ofertas de disciplinas, itinerários formativos e projetos de vida que naturalizam e reproduzem as desigualdades sociais dentro da própria escola: esses conceitos ficam limitados à falta de acesso, e o interesse passa a ser definido pela necessidade, e não pelo desejo. Afinal, que escola queremos? O fazer transdisciplinar diário, cotidiano, pode dar conta de um currículo mais integrado, em que os conteúdos das disciplinas dialoguem entre si e com a vida concreta dos estudantes? Podemos não ter uma resposta, mas sabemos que experimentar é renovar, é reformar!

       Para iniciar a noite com beleza e sensibilidade, a exposição artística de mãe e filha, Clarice Badia e Kalyna Ynanhiá, Negritudes Femininas, serve de espelho para a identificação de nossa ancestralidade africana, com seus mais diversificados matizes de cor e simbologias de vigor. E, nos Diálogos Abertos, que vêm em sequência, os tópicos sobre Etarismo, Bem-estar Social e (Re)Construções sobre a Velhice trazem também à cena a relevância do reconhecimento e da necessidade de reverência aos que nos precedem, de quem as experiências são repassadas pelos convívios, cuidados e afetos, de geração a geração, e deixam à mostra a riqueza dos saberes humanos, em seus diferentes ciclos e momentos de existência. Não ceder à repressão e não sucumbir ao desgaste temporal, com ternura e leveza, são também atos de força, resistência e valorização da vida!

       Em outro extremo etário, também a forma pueril e comezinha pela qual as crianças do 2º ano do ensino fundamental do Cepae/UFG, com a orientação das bolsistas Anielly Marques Souza e Giovana Alves Nogueira, contam suas histórias, no Audiobook: de ninho em ninho, é uma evidente demonstração de como o simples, o singelo pode ser potente! Ao estilo de Conceição Evaristo, arriscamos a nomeá-las narrativivências, já que, a exemplo do sentido dado ao neologismo escrevivência criado pela autora, suas histórias são elaboradas a partir de suas experiências cotidianas, de suas lembranças de fatos marcantes ocorridos no convívio familiar com pais e/ou avós, entre amigos e/ou colegas da escola. São belíssimas traduções da forma como esses sujeitos percebem e ressignificam suas incipientes e valiosas existências.

       As Vivências Sistêmicas e os Diálogos Abertos que culminam no encerramento do VII FNEEBT / II CID, na 6ª feira à tarde e à noite, e na manhã do sábado, fazem uma espécie de giro de 360º, ou seja, voltam às origens da razão pela qual esse evento científico-cultural foi primeiramente idealizado: (i) a busca obstinada pela identificação de causas que levam à exclusão e à evasão escolar, e pelo esforço casmurro de suscitar o debate sobre os fundamentos e princípios que as sustentam, consciente e/ou inconscientemente; e (ii) as possíveis formas práticas de abarcar e lidar com as intricadas relações que compõem esse complexo todo (vivências sistêmicas), mesmo que de forma desnaturalizada, no ambiente escolar formal.

       A princípio, a realidade excludente da escola só se deixou perceber devido a diferenças visíveis: não havia apenas alunos adaptados aos parâmetros estabelecidos, mas também sujeitos com deficiências, com dificuldades de aprendizagem, com comportamentos inadequados, que resistiam aos “infalíveis métodos de ensino e aprendizagem não tradicionais”. Quanta ingenuidade! Olhares mais acautelados e vozes dissonantes, no entanto, advertiam: a escola é para todos! E todos são cada um com seu modo único de enxergar e agir no mundo! Não é o sujeito singular que deve se adaptar à escola, mas é a escola que deve estar apta a acolher e garantir a permanência de cada um!

       E é sobre isso que tratam as Mães Atípicas, quando se encontram para dialogar: trazem para nós um sentido, um norte, uma luz sobre como podemos superar a cegueira do capacitismo que insiste em nos paralisar na neurose de imputar aos outros os nossos próprios compromissos e responsabilidades como educadores escolares.

       E os exemplos de como podemos concretizar o fazer cotidiano escolar formal de modo a privilegiar a escuta das distintas vozes, saberes e desejos de cada sujeito-aluno estão documentados nas Vivências Sistêmicas apresentadas e comentadas pela dedicada equipe composta por bolsistas pesquisadores (estudantes de educação básica e de graduação), que, ao longo desses primeiros meses do ano letivo escolar, juntamente com outros discentes e docentes parceiros do Projeto de Extensão “Olhares Singulares Sob/re Novos Cenários”, organizaram e desenvolveram a Ação intitulada “O Lugar de Mãe: representações femininas com arte e poesia”. O tema escolhido para inspirar essas atividades faz parte da proposta apresentada pelo Programa de Extensão e Cultura da PROEC “Mulheres em/nas poéticas”, ao qual o projeto encontra-se vinculado.

       Enfim, são essas questões e suas complexas relações que o VII FNEEBT / II CID busca tratar durante esta inebriante semana de primavera do mês de setembro de 2023. Mais uma vez, pois, esse auspicioso encontro de gentes de esperança e de luta segue firme na convicção de que o amor se faz com memória e justiça! Não às violências!

Equipe Organizadora

VII FNEEBT / II CID

Setembro de 2023